Ralph Milton Waters

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Ralph Milton Waters.

No dia 9 de Outubro de 1883, nasceu em Ohio, Estados Unidos da América, o Dr. Ralph Milton Waters fundador da “anestesia académica” nos Estados Unidos. Após ter concluído a sua formação médica em 1912 na Western Reserve Medical School, desenvolveu toda a sua carreira na Universidade de Wisconsin. Faleceu em 1979.
Iniciou a sua carreira médica antes da Primeira Guerra Mundial, como clínico geral, especializando-se posteriormente em Anestesia e Obstetrícia. Mais tarde, devido à incapacidade de manter a sua atividade nestas duas especialidades optou definitivamente pela Anestesia. Em 1918, Waters descreve assim o estado deplorável da prática anestésica: “A few more or less full time surgeons … employed nurses to administer ether in the mornings at hospitals and act as office nurses in the afternoons. A majority of us … depended upon each other to act as anesthetists as occasions demanded”. Waters decide então iniciar programas de treino para melhorar a performance da atuação dos médicos que se dedicavam a anestesiar doentes. A ideia foi tão revolucionária na época que em 1927 Erwin W. Schmidt Professor de Cirurgia na Universidade de Wisconsin o convidou para promover um programa de treinos que veio a influenciar a prática da anestesia em todo o mundo. Foi um Diretor de Departamento que privilegiou em todas as circunstâncias uma atitude de partilha e empatia em relação aos seus colegas, criando um verdadeiro espírito de equipa e uma escola de Anestesiologia famosa em todo o mundo.
Para além desta sua atividade, Waters destacou-se no estudo do dióxido carbono e no desenvolvimento de sistemas pioneiros dos circuitos fechados através da sua absorção, bem como no estudo da farmacologia de novos agentes anestésicos como o ciclopropano e o tiopental sódico em 1936. Foi também pioneiro no desenvolvimento de sociedades anestésicas com o intuito de encorajar a investigação e a divulgação de informação científica.
Waters definiu também as condições que considerou necessárias para exercer Anestesiologia. Já nessa altura considerou fundamental que o Anestesiologista para além de ter um treino intensivo e regular da sua prática diária, deveria ter conhecimentos aprofundados em fisiologia, farmacologia e medicina geral. Definiu também que deveria fazer parte desta especialidade médica o ensino dedicado de outros profissionais, a realização de investigação e estabeleceu padrões éticos e técnicos robustos na prática clínica dos Anestesiologistas.
Reformou-se em 1949, tendo-se dedicado à cultura de citrinos!…
A preservação da memória do Dr. Waters, relembrando o seu trabalho, é fundamental nesta época em que os valores éticos e profissionais da prática da Medicina e da Anestesiologia em particular se encontram ameaçados por forças políticas, sociais e económicas que constantemente minam estes pilares fundamentais da nossa atividade diária.

Na próxima semana, descubra porque é que Samuel Guthrie, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Stephen Hales

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Stephen Hales.

Em 7 de Setembro de 1677, nasceu em Bekesbourne, Kent, Reino Unido, Stephen Hales. Estudou química e botânica na Universidade de Cambridge que frequentou a partir de 1696.
Mente brilhante, dedicou a sua vida a realizar experiências muito simples mas que lhe permitiram compreender o mundo que o rodeava e simultaneamente resolver problemas em diversas áreas, que eram insolúveis na época. Assim desenvolveu o “método experimental” caracterizado não só por observações rigorosas, registo pormenorizado, medições, recolha de dados e baseado nestes, realização de cálculos.
Entre as múltiplas invenções que concretizou, foi o primeiro a medir a pressão arterial, o débito e o volume sanguíneo.
Hales investigou também a importância da água e do ar na fisiologia das plantas e dos animais.
Uma das suas invenções mais notáveis, foi um sistema de ventilação que permitiu salvar muitas pessoas nos barcos, hospitais e prisões. Descobriu que o ar expirado era impróprio para ser consumido. Este facto, juntamente com a propagação rápida de infecções nestes espaços, permitiu perceber a razão para a morte de muitas pessoas quando se encontravam aglomeradas em espaços fechados (ex: navios), situação que era um verdadeiro flagelo no início do séc. XVIII.
Demonstrou que a medula espinhal medeia alguns reflexos e inventou o forceps cirúrgico.
Em 1717, foi eleito como membro da Royal Society.
Faleceu em Teddington a 4 de Janeiro de 1761.
Stephen Hales, foi um cientista brilhante, que utilizando um método científico de vanguarda (mais próximo do séc. XXI do que do séc. XVIII), conseguiu perceber muitos enigmas do mundo exterior e simultaneamente, inventar soluções para problemas reais que afectavam as populações.
Duzentos e cinquenta anos após a sua morte continua a ser homenageado como um dos vultos mais conceituados da História da Ciência.

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Friedrich Serturner

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Friedrich Serturner.

Em 19 de Junho de 1783, nasceu em Neuhaus, Alemanha, Friedrich Wilhelm Adam Ferdinand Serturner.
Órfão desde os 15 anos e habituado a conviver na corte do príncipe de Paderborn, começou a interessar-se pelo princípio ativo que tornava o ópio tão eficaz no controle da dor.
Decorria o ano de 1803 quando Seturner aprendiz de farmácia com 20 anos de idade, isolou e extraiu do ópio cristais de morfina. Ao fazê-lo tornou-se o primeiro químico a isolar e a identificar o ingrediente ativo associado a uma planta ou erva medicinal. A sua descoberta permitiu que inúmeros médicos prescrevessem morfina em doses regulares. Evitou-se assim o risco de sobredosagem geralmente associado à prescrição de preparados com sementes de ópio.
Serturner batizou este princípio ativo com o nome de morfina em honra de Morpheus o deus grego do sono. Após este sucesso, continuou as suas experiências discretamente em ratos e cães de modo a conseguir obter a dose ideal para administrar em seres humanos. Recrutou também amigos para experiências a que ele próprio também se submeteu. Assim, verificou que doses baixas de morfina induziam um estado de alegria e de sensação de “leveza mental”. Com doses mais elevadas aparecia um estado de confusão e fadiga excessiva. Aumentando as doses induzia-se um estado de sono com náuseas e cefaleias ao despertar. Como os seus amigos iam desistindo da ingestão de doses maiores, Serturner resolveu auto-ingerir doses progressivamente maiores. Descobriu assim que a morfina era extremamente aditiva!
Só em 1809 após publicação do seu artigo intitulado “Ueber das Morphium als Hauptbestandteil des Opiums”, foi reconhecida mundialmente a sua descoberta.
No fim da sua vida tornou-se vítima de uma depressão crónica como consequência da sua incapacidade de desenvolver uma fórmula para um analgésico oral eficiente e sem efeitos secundários. Ficou hipocondríaco e sentiu no seu estado de saúde os efeitos da sobredosagem da morfina que passou a tomar regularmente.
Faleceu em 20 de fevereiro de 1841 poucos anos antes da invenção dos fármacos analgésicos por via endovenosa.
Apesar da sua educação básica, o trabalho de Serturner demonstrou para além do isolamento dos cristais de morfina que as plantas medicinais contêm substâncias específicas que podem ser extraídas com eficácia. Estas substâncias podem ser controladas com precisão e serem a base de fármacos fundamentais para a manutenção do bem-estar dos seres humanos.

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Francis F. Foldes

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Francis F. Foldes!

Em 19 de Maio de 1997 faleceu Francis F. Foldes
O Dr. Foldes, nasceu em 13 de junho de 1910 em Budapeste, Hungria, e formou-se em Medicina na Escola Médica da Universidade de Budapeste em 1934. Durante o período em que tirou a sua especialização, foi professor de bioquímica na Universidade. Especializou-se em Medicina Interna em 1938. Em 1941 durante a 2ª Guerra Mundial e com a invasão da Hungria, resolveu emigrar para os Estados Unidos juntamente com a sua mulher, Edith, após uma viagem atribulada em que foram detidos em Berlim. Iniciou a sua carreira como anestesiologista no Massachussetts General Hospital sendo nomeado Diretor do Departamento de Anestesiologia em 1947 no Mercy Hospital em Pittsburgh, Pennsylvania. Durante os anos que passou neste hospital que se revelaram ser os mais profícuos da sua carreira, iniciou os seus estudos sobre miastenia gravis, colinesterase, anestésicos locais, relaxantes musculares e narcóticos. A sua investigação clínica incidiu também sobre a anestesia subaracnoideia e epidural, sobre a suplementação com narcóticos e anestesia geriátrica. Durante os 15 anos que permaneceu em Pittsburgh, o Dr. Foldes participou ativamente no treino de 100 residentes. Era um clínico entusiasmado que adorava demonstrar técnicas de anestesia regional e inalatória e fármacos novos e antigos aos seus residentes.
Foi nomeado em 1962 Diretor do Departamento de Anestesiologia do Montefiore Medical Center no Bronx, Nova Iorque, onde exerceu a sua atividade até à reforma em 1975.
Em 1964 foi nomeado Professor de Anestesia do Albert Einstein College of Medicine em Nova Iorque.
Para além destes e de vários outros cargos e títulos honoríficos que lhe foram atribuídos ao longo da sua vida, foi eleito em 1968 para a Presidência da Federação das Sociedades Mundiais de Anestesiologistas.
O Dr. Foldes é fundamentalmente conhecido pela sua contribuição significativa no diagnóstico e tratamento da miastenia gravis. Foi responsável pela introdução da 2-cloroprocaína e da naloxona na prática clínica. Desenvolveu também a técnica da perfusão contínua dos relaxantes musculares e inventou a anestesia de baixo débito.
Publicou cerca de 600 artigos e foi coautor de vários livros sobre os temas que o entusiasmaram durante toda a sua vida profissional: miastenia gravis, anestésicos locais, relaxantes musculares e narcóticos.

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Guerras e Anestesia

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é “Guerras e Anestesia”

A “personalidade” que hoje vai estar em análise chama-se “Guerra”!…
Desde sempre a “Guerra” teve um papel preponderante na evolução dos povos. Foi sempre um motor de desenvolvimento criado pela necessidade de se obterem determinados objectivos prementes. A anestesia, como complemento da cirurgia, não fugiu a esta regra. Vejamos um pouco da sua atribulada história durante as guerras…Apesar de oficialmente a Anestesia só ter iniciado a sua existência em 1846, não há dúvida que o alívio da dor foi desde sempre uma motivação dos homens. Os escritores clássicos sempre aludiram a várias plantas (ex: ópio, mandrágora, cânhamo indiano), com propriedades analgésico/sedativas.
No entanto as primeiras descrições pormenorizadas sobre o uso de técnicas anestésicas em cenários de guerra reportam ao conflito militar entre os Estados Unidos e o México em 1847. Dois meses após a demonstração da primeira operação indolor com éter por William Morton, Edward H. Barton e John B. Porter administraram éter no campo de batalha para a realização de amputação dos membros!
Apesar das dificuldades de comunicações na época é espantoso como o éter é também usado no Verão de 1847 pelas forças militares russas no Cáucaso. Spencer Wells, médico inglês descreve a anestesia de 106 doentes em Malta no mesmo ano. Em 1848 os dinamarqueses também usaram clorofórmio no campo de batalha.
Posteriormente na Guerra da Crimeia (1853-1856) e na Guerra Civil Americana (1861-1865), o éter, o clorofórmio ou a combinação dos dois anestésicos foram usados rotineiramente com este objectivo.
Cada guerra “aprendeu” com as lições das guerras anteriores com o fim de melhorar as técnicas anestésicas. Foi neste sentido que o cirurgião George Washington Crile, afirmou que a maior lição aprendida com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), resume-se ao conceito resumido na seguinte frase: “o paciente cor-de-rosa não pode morrer”. É esta noção da importância da cor do doente como mostruário exterior do estado interno, que deve conduzir ao desenvolvimento de todos os esforços para salvar o doente. Foi também na Primeira Guerra Mundial que a par da utilização da anestesia loco-regional e local, se desenvolveu o “Flagg can” um vaporizador de éter para anestesiar. Este utensílio, ainda foi muito útil na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando os equipamentos anestésicos e/ou os gases comprimidos não estavam disponíveis.
A Guerra do Vietname (1959-1975) trouxe dois grandes desafios para a anestesia: a multiplicidade de lesões sofridas pelos militares e a necessidade de evacuação rápida dos feridos do teatro de guerra para um hospital. Estes factos levaram a um maior desenvolvimento da anestesia geral em detrimento da anestesia loco-regional, à implementação de novas técnicas de ressuscitação cardiopulmonar mais eficazes, ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais complexas bem como à implementação de unidades de cuidados intensivos.
As tentativas de se implementarem estes pressupostos na Guerra do Camboja (1970-1975) e na Guerra Civil Angolana (1975-2002), foram infelizmente infrutíferas, devido à estratégia das partes beligerantes em destruírem sistematicamente os serviços de saúde. Nestas guerras, o anestésico de escolha foi a cetamina. Este fármaco também foi usado intensivamente pelos serviços médicos italianos nas guerras da Somália (1994) e do Uganda (1999). Foi no entanto na Guerra das Malvinas ((Falklands) (1982), que a cetamina foi inicialmente utilizada de uma forma rotineira. Esta guerra ficou também marcada pelo desenvolvimento do Triservice anesthetic apparatus (TSA)”, um aparelho anestésico portátil e miniaturizado, e pelo desenvolvimento da técnica de anestesia geral endovenosa. Esta técnica é posteriormente desenvolvida em 1991 na Guerra do Golfo Pérsico com a utilização combinada de cetamina e propofol.
A tática de guerra mais recente é o terrorismo!…
Provavelmente será necessário desenvolver uma nova abordagem anestésica que exigirá soluções únicas baseadas em lições do passado…

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Jules Cloquet

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é… Jules Cloquet!

Quem foi Jules Germain Cloquet
Jules Cloquet, nasceu em 1790. Iniciou a sua actividade profissional como aprendiz de desenhador tal como o seu pai. Em 1810 veio viver para Paris onde frequentou o Curso de Medicina. É nesta altura que se dedica a modelar figuras anatómicas na Faculdade de Medicina de Paris. Em 1817 foi doutorado em Medicina com uma dissertação sobre hérnias abdominais. Em 1819 é nomeado cirurgião e director adjunto  do Hospital de S. Luís onde se especializou no tratamento de hérnias. O seu trabalho granjeou-lhe reconhecimento, pelo que se tornou em 1821 um dos primeiros membros da Academia de Medicina. Em 1824 foi nomeado, após concurso, Professor Agregado de Cirurgia.
Juntamente com a sua carreira académica inicia em 1821 a publicação do seu famoso trabalho “Anatomie de l´homme”. Contém cerca de 1300 ilustrações a maioria desenhada pelo próprio Cloquet e levou 10 anos a ser publicado na íntegra!
Na sua atividade como cirurgião, Cloquet interessou-se pela dor que induzia nos doentes ao efectuar as cirurgias. Sendo uma das suas muitas áreas de interesse o estudo do “mesmerismo”, então muito em voga, Cloquet resolveu aplicar os seus conhecimentos nesta área aos seus doentes.
Em 12 de Abril de 1829, efectuou a sua mais famosa cirurgia num doente sob hipnose. Realizou uma mastectomia com exerese dos gânglios linfáticos axilares numa doente francesa de 64 anos, Madame Plantin, que sofria de carcinoma da mama. O Dr. Chapelain hipnotizou a doente. Durante o seu transe hipnótico, falou calmamente sobre a cirurgia a que iria ser submetida, despiu-se e expôs a mama que iria ser operada. Durante a cirurgia que durou cerca de 12 minutos, conversou descontraidamente com o cirurgião e com o seu médico que segurava o membro superior do lado da mama intervencionada. Não referiu qualquer dor durante todo o procedimento. No pós-operatório, permaneceu em hipnose durante 10 h. A ferida operatória cicatrizou normalmente, mas a doente faleceu 14 dias depois devido a outra doença.
Apesar do êxito deste caso, Cloquet não voltou a efectuar cirurgias em doentes sob hipnose. Segundo dizia, o “mesmerismo” era altamente criticado em Paris, pelo que a repetição da experiência em outros doentes poderia abalar a sua elevada reputação e fazê-lo cair em desgraça!…
Faleceu em 23 de fevereiro de 1883.

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Crawford Long

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Crawford Long

Até ao dia 30 de Março de 1842, a descrição habitual de uma intervenção cirúrgica era a seguinte: A man, screaming in agony, is held down on an operating table by 5 others while the surgeon amputates his left leg above the knee”
Neste dia, em Jefferson, Geórgia, o médico e farmacêutico americano Dr. Crawford Williamson Long (1815-1878) teve a ideia de usar o éter na anestesia do seu amigo James Venable para a remoção de dois pequenos tumores da nuca. O doente não demonstrou sentir a mínima dor! Alguns estudantes assistiram à cirurgia e constataram que o doente só acreditou que tinha sido operado quando Long lhe mostrou os dois tumores retirados.
Seguiu-se outra anestesia: o filho de uma escrava tinha queimado gravemente a mão e precisava amputar dois dedos. Para a amputação do primeiro dedo Long usou a inalação de éter, não tendo o doente referido qualquer dor. O segundo porém foi amputado após passar o efeito do éter e apenas nesta segunda amputação houve demonstração de dor. Desta forma foi comprovado que a analgesia era devida ao éter.
Long acreditava que apenas deveria utilizar o éter em pequenas cirurgias mas que, para grandes intervenções, a necessidade de uma inalação prolongada, durante todo o acto cirúrgico, poderia ter efeitos nefastos. Long utilizou éter em 8 cirurgias mas devido a conselhos de colegas sobre o perigo do éter, principalmente quando levava à inconsciência, e pelo receio de ser linchado por uma multidão revoltada caso alguma intervenção corresse menos bem, abandonou a técnica e não publicou os seus resultados. Só em 1849 após o médico Thomas Morton ter obtido a patente do éter como anestésico (1846), é que Long publicou as suas experiências.
Durante todos estes anos Long não foi reconhecido como o inventor da anestesia. No entanto nas duas últimas décadas a justiça foi reposta e Crawford Long foi considerado como o responsável por esta revolução na Medicina.
Morreu em Athens, Georgia (1878) sem pedir a patente da sua descoberta!…

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Pierre-Cyprien Oré

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Pierre-Cyprien Oré

 Bordéus, Hospital de Santo André, 9 de Fevereiro de 1874, 17 horas. O professor Pierre-Cyprien Oré (1828-1891), cirurgião do hospital, resolve tratar em regime de urgência um doente do sexo masculino de 52 anos, com tétano em fase aguda. Para isso, submeteu-o a uma sedação com hidrato de cloral, graças ao método das injeções endovenosas. É injetado por duas vezes na veia basílica, 9 g de hidrato de cloral diluído em 10 g de água. O doente, quase instantaneamente, «cai num sono profundo e tranquilo. A rigidez muscular desaparece e a respiração torna-se calma e regular. A anestesia foi tão completa que pude explorar o dedo traumatizado sem qualquer limitação, o que era impossível com o  doente acordado. Decidi fazer a extração do prego sem qualquer queixa do doente. O sono durou cerca de 11 horas». No  total, Oré fez 4 injeções. O doente curou-se e voltou para sua casa em 28 de fevereiro. Oré admitiu que esta foi a primeira anestesia endovenosa que se realizou.
Em 16 de fevereiro deste mesmo ano, Oré revela esta experiência à Academia Francesa de Ciências. “Ore was very enthusiastic about intravenous anesthesia with chloral hydrate, and believed it to be superior to inhalation anesthesia with ether or chloroform.”
Já dois anos antes Oré tinha publicado um artigo preliminar sobre esta técnica.
Em 1875 publica a primeira monografia sobre a técnica: “Études Cliniques sur L’Anesthesie Chirurgicale par La Methode des Injections de Chloral dans Les Veines”.
Apesar dos sucessos, os trabalhos de Oré suscitaram uma hostilidade quase generalizada devido essencialmente à recuperação lenta dos doentes e à elevada mortalidade. Felizmente M. Deneffe, professor em Gand (Bélgica), propõe a Oré continuar as suas pesquisas na Bélgica. O método pode então desenvolver-se de tal modo que brevemente a anestesia com hidrato de cloral irá substituir a anestesia com clorofórmio no hospital de Gand.

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Samuel Colt

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Samuel Colt!

Samuel Colt, nasceu em 1814 em Hartford (Estados Unidos da América) e tornou-se um inventor e industrial famoso ao registar a patente e a fabricar em 1836 as pistolas que adquiriram o seu nome – Colt.
Ainda teenager, Colt desenvolveu uma obsessão por armas de fogo e explosivos. Frequentou a Amherst Academy onde desenvolveu as suas capacidades e inventou um fogo de artifício original para celebrar o 4 de Julho. Infelizmente o edifício da escola ardeu!… E Colt receando ser expulso deixou a escola…
Aos 18 anos, para angariar fundos para continuar a sua investigação em armas de fogo, tornou-se um vendedor ambulante, promovendo espetáculos de anestesia de seres humanos com protóxido de azoto. O “Dr.” Colt tornou-se um astuto vendedor. As suas credenciais rapidamente se potenciaram e tornou-se Professor Coult of Calcutta, London and New York. Com estas demonstrações com o “gás hilariante” que ele próprio produzia, rapidamente ganhou fama e dinheiro que permitiram continuar as suas investigações no fabrico de armas e fundar a Patent Arms Company. Os seus revólveres tornaram-se famosos, ao ponto de serem vendidos por Colt na guerra da Crimeia (1854-56) a ambos os beligerantes! Foram também os responsáveis pela cultura das armas que ainda prevalece no EUA nos dias de hoje.
Morreu na sua cidade natal em 1836 e os seus restos mortais repousam no Cedar Hill Cemetery, Hartford, Connecticut.
Colt tornou-se um bom exemplo em como a arte de anestesiar desde os seus primórdios, teve outras aplicações interessantes muito para além do… Bloco Operatório!…

Na próxima semana, descubra porque é que… Pierre-Cyprien Oré, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Manual de Procedimentos 2017 – Lançamento da edição digital

Procedimentos 2017

“Coming together is a beginning. Keeping together is progress. Working together is success.” Henry Ford

Com o primeiro trimestre de 2017 quase a chegar ao fim, eis que surge a décima primeira edição do Manual de Procedimentos do Serviço de Anestesiologia do IPOLFG – PROCEDIMENTOS 2017 – confirmando a vontade, o entusiasmo e o profissionalismo de todos os elementos do Serviço em continuar empenhados nesta difícil e desafiante tarefa.

Após a fase inicial de dúvidas e inseguranças perante a incerteza face à mudança de Direção, o Serviço vai afirmando a sua identidade e readquirindo a capacidade de inovação e preocupação contínua no aperfeiçoamento da sua atividade.

As alterações na legislação, relativamente aos patrocínios da indústria farmacêutica, vão tornando cada vez mais difícil obter os meios necessários para a manutenção e concretização deste ambicioso projeto e de outros que têm surgido no Serviço.

Esta nova edição do nosso manual, para além da atualização de acordo com as novas guidelines e da respetiva revisão, inclui um novo capítulo: “Ventilação Não Invasiva”.

O nosso objetivo, de manter uma edição anual, foi mais uma vez alcançado. Faremos o possível para poder dizer o mesmo, daqui a um ano.

Aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os elementos do Serviço de Anestesiologia do IPOLFG, a colaboração e o apoio que senti ao longo deste primeiro ano de Direção do Serviço. Tem sido uma tarefa árdua, mas gratificante liderar esta equipa de que muito me orgulho, principalmente pela enorme responsabilidade de dar continuidade ao trabalho de um Diretor tão carismático e convicto das suas decisões como o Dr. José Manuel Caseiro.

Ao Serviço de Anestesiologia do IPOLFG, o meu MUITO OBRIGADA! Sem a colaboração de TODOS, nada disto teria sido possível..

Isabel Serralheiro Fevereiro 2017