William Edward Clarke

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é William Edward Clarke.

 Em 22 de Fevereiro de 1819, nasceu no Connecticut, Estados Unidos da América, William Edward Clarke. Desde muito novo, foi influenciado pelo ambiente familiar: o pai era médico e os seus avôs também eram médicos proeminentes.
Foi estudante de Química em Rochester, Nova Iorque. Tal como era moda na altura, utilizou éter com intuitos recreativos. Nestas festas, as pessoas eram incentivadas a inalar éter ou protóxido de azoto, e as suas reacções à inalação eram motivo de riso e divertimento entre todos os espectadores. Uma das pessoas que testemunhou estes acontecimentos nestes “convívios” promovidos por Clarke, foi TG Morton futuro “pai” oficial da Anestesia.
Em Janeiro de 1842, Clarke era estudante na Faculdade de Medicina de Vermont. Na presença do seu tutor, Professor E. M. Moore, administrou éter a Miss Hobbie (irmã de um dos seus colegas), para a realização de uma extracção dentária pelo Dr. Elijah Pope. Usou uma toalha embebida em éter e aplicou-a na face de Miss Hobbie. Posteriormente a extracção dentária realizou-se sem qualquer dor…
O resultado foi de tal forma inesperado que o Prof. Moore interpretou este comportamento tão pacífico de Miss Hobbie como um ataque de histeria perante a dor e assim instou Clarke a não continuar tais tratamentos.
Se Clarke não tivesse obedecido às directrizes do seu tutor, provavelmente hoje seria mundialmente reconhecido como o “descobridor” da Anestesia. No entanto Clarke foi pouco persistente e metódico na análise dos resultados e não voltou a repetir a experiência, pelo que este episódio só mereceu a atenção dos seus pares em 1850, já depois de Crawford Long (1842) e Thomas Morton (1846), terem feito as suas demonstrações públicas da eficácia do éter.
Clarke após graduar-se em Medicina em 1849, trabalhou como cirurgião em Michigan e Chicago e realizou o serviço militar em 1861. Dois anos mais tarde, retomou a Medicina civil em Chicago como cirurgião e ginecologista.
Morreu em Chicago em 6 de Outubro de 1894, inconsciente do seu papel na descoberta da Anestesia!…
Clarke é um bom exemplo de como as invenções só têm significado se os inventores as souberem merecer…

Na próxima semana, descubra porque é que os “Opióides”, mereceram as honras de ser nomeado por este “site”!

Guerras e Anestesia

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é “Guerras e Anestesia”

A “personalidade” que hoje vai estar em análise chama-se “Guerra”!…
Desde sempre a “Guerra” teve um papel preponderante na evolução dos povos. Foi sempre um motor de desenvolvimento criado pela necessidade de se obterem determinados objectivos prementes. A anestesia, como complemento da cirurgia, não fugiu a esta regra. Vejamos um pouco da sua atribulada história durante as guerras…Apesar de oficialmente a Anestesia só ter iniciado a sua existência em 1846, não há dúvida que o alívio da dor foi desde sempre uma motivação dos homens. Os escritores clássicos sempre aludiram a várias plantas (ex: ópio, mandrágora, cânhamo indiano), com propriedades analgésico/sedativas.
No entanto as primeiras descrições pormenorizadas sobre o uso de técnicas anestésicas em cenários de guerra reportam ao conflito militar entre os Estados Unidos e o México em 1847. Dois meses após a demonstração da primeira operação indolor com éter por William Morton, Edward H. Barton e John B. Porter administraram éter no campo de batalha para a realização de amputação dos membros!
Apesar das dificuldades de comunicações na época é espantoso como o éter é também usado no Verão de 1847 pelas forças militares russas no Cáucaso. Spencer Wells, médico inglês descreve a anestesia de 106 doentes em Malta no mesmo ano. Em 1848 os dinamarqueses também usaram clorofórmio no campo de batalha.
Posteriormente na Guerra da Crimeia (1853-1856) e na Guerra Civil Americana (1861-1865), o éter, o clorofórmio ou a combinação dos dois anestésicos foram usados rotineiramente com este objectivo.
Cada guerra “aprendeu” com as lições das guerras anteriores com o fim de melhorar as técnicas anestésicas. Foi neste sentido que o cirurgião George Washington Crile, afirmou que a maior lição aprendida com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), resume-se ao conceito resumido na seguinte frase: “o paciente cor-de-rosa não pode morrer”. É esta noção da importância da cor do doente como mostruário exterior do estado interno, que deve conduzir ao desenvolvimento de todos os esforços para salvar o doente. Foi também na Primeira Guerra Mundial que a par da utilização da anestesia loco-regional e local, se desenvolveu o “Flagg can” um vaporizador de éter para anestesiar. Este utensílio, ainda foi muito útil na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando os equipamentos anestésicos e/ou os gases comprimidos não estavam disponíveis.
A Guerra do Vietname (1959-1975) trouxe dois grandes desafios para a anestesia: a multiplicidade de lesões sofridas pelos militares e a necessidade de evacuação rápida dos feridos do teatro de guerra para um hospital. Estes factos levaram a um maior desenvolvimento da anestesia geral em detrimento da anestesia loco-regional, à implementação de novas técnicas de ressuscitação cardiopulmonar mais eficazes, ao desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais complexas bem como à implementação de unidades de cuidados intensivos.
As tentativas de se implementarem estes pressupostos na Guerra do Camboja (1970-1975) e na Guerra Civil Angolana (1975-2002), foram infelizmente infrutíferas, devido à estratégia das partes beligerantes em destruírem sistematicamente os serviços de saúde. Nestas guerras, o anestésico de escolha foi a cetamina. Este fármaco também foi usado intensivamente pelos serviços médicos italianos nas guerras da Somália (1994) e do Uganda (1999). Foi no entanto na Guerra das Malvinas ((Falklands) (1982), que a cetamina foi inicialmente utilizada de uma forma rotineira. Esta guerra ficou também marcada pelo desenvolvimento do Triservice anesthetic apparatus (TSA)”, um aparelho anestésico portátil e miniaturizado, e pelo desenvolvimento da técnica de anestesia geral endovenosa. Esta técnica é posteriormente desenvolvida em 1991 na Guerra do Golfo Pérsico com a utilização combinada de cetamina e propofol.
A tática de guerra mais recente é o terrorismo!…
Provavelmente será necessário desenvolver uma nova abordagem anestésica que exigirá soluções únicas baseadas em lições do passado…

Na próxima semana, descubra porque é que Francis Foldes, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Crawford Long

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Crawford Long

Até ao dia 30 de Março de 1842, a descrição habitual de uma intervenção cirúrgica era a seguinte: A man, screaming in agony, is held down on an operating table by 5 others while the surgeon amputates his left leg above the knee”
Neste dia, em Jefferson, Geórgia, o médico e farmacêutico americano Dr. Crawford Williamson Long (1815-1878) teve a ideia de usar o éter na anestesia do seu amigo James Venable para a remoção de dois pequenos tumores da nuca. O doente não demonstrou sentir a mínima dor! Alguns estudantes assistiram à cirurgia e constataram que o doente só acreditou que tinha sido operado quando Long lhe mostrou os dois tumores retirados.
Seguiu-se outra anestesia: o filho de uma escrava tinha queimado gravemente a mão e precisava amputar dois dedos. Para a amputação do primeiro dedo Long usou a inalação de éter, não tendo o doente referido qualquer dor. O segundo porém foi amputado após passar o efeito do éter e apenas nesta segunda amputação houve demonstração de dor. Desta forma foi comprovado que a analgesia era devida ao éter.
Long acreditava que apenas deveria utilizar o éter em pequenas cirurgias mas que, para grandes intervenções, a necessidade de uma inalação prolongada, durante todo o acto cirúrgico, poderia ter efeitos nefastos. Long utilizou éter em 8 cirurgias mas devido a conselhos de colegas sobre o perigo do éter, principalmente quando levava à inconsciência, e pelo receio de ser linchado por uma multidão revoltada caso alguma intervenção corresse menos bem, abandonou a técnica e não publicou os seus resultados. Só em 1849 após o médico Thomas Morton ter obtido a patente do éter como anestésico (1846), é que Long publicou as suas experiências.
Durante todos estes anos Long não foi reconhecido como o inventor da anestesia. No entanto nas duas últimas décadas a justiça foi reposta e Crawford Long foi considerado como o responsável por esta revolução na Medicina.
Morreu em Athens, Georgia (1878) sem pedir a patente da sua descoberta!…

Na próxima semana, descubra porque é que Jules Cloquet, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

John Snow

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é John Snow

 A 10 de Novembro de 1856 no Hospital do King´s College em Londres, John Snow efectuou a primeira administração clínica de Amileno, um gás anestésico até aí investigado apenas em animais.
Mas quem era John Snow? Nascido a 15 de Março de 1813, numa família de nove irmãos, estudou até aos 14 anos. É nesta altura que é apresentado a amigos da família que praticavam as artes da Medicina e Cirurgia. Desta forma nasceu a vocação pela Medicina, que tem como corolário o início da sua carreira médica no Hospital de Westminster em 1837. Rapidamente é admitido no Royal College of Surgeons of England em 2 de Maio de 1838.
John Snow foi um dos pioneiros a estudar e calcular as doses de administração do éter e clorofórmio com fins anestésicos, permitindo assim a realização de procedimentos cirúrgicos sem o pavor e a dor outrora vulgarmente aceites. A sua grande reputação advém do facto de ter administrado clorofórmio à rainha Victoria durante o parto dos seus dois últimos filhos, Leopold (1853) e Beatrice (1857). Estes acontecimentos históricos conduziram à grande aceitação na Europa da anestesia em obstetrícia.
Após a experiência relatada em 1856, John Snow abandonou o uso do amileno em 1857 como resultado da morte de dois doentes. No verão de 1857, John G. Orton publicou dois trabalhos no Boston Medical e no Surgical Journal sobre o uso de amileno (fornecido por John Snow), na extração de uma unha encravada e num caso de obstetrícia. A história do amileno tem um episódio muito interessante e que é interpretado por um correspondente do New York Times que descreve de uma forma delirante uma cirurgia em que é utilizado amileno para anestesiar um doente com “necrose da tíbia”. É a seguinte a descrição do jornalista: “She did not go to sleep, and yet she felt no pain; her eyes remained open during the whole operation, which lasted nearly an hour….” O amileno ganhou alguma popularidade na Alemanha e na Grã-Bretanha até ao fim do século XIX.
Com a idade de 45 anos, John Snow é vítima de um AVC enquanto trabalhava em Londres. Nunca recupera totalmente, vindo a falecer em 16 de Junho de 1858.

Na próxima semana, descubra porque é que Gardner Quincy Colton, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Louisa May Alcott

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Louisa May Alcott

Louisa May Alcott nasceu em Filadélfia, Pensilvânia, em 29 de Novembro de 1832. Ficou célebre pela sua atividade como escritora tendo-se dedicado principalmente à literatura infantil. Louisa sonhava ser atriz mas tornou-se escritora. Inspirou-se nas suas próprias experiências para escrever o seu romance mais famoso: Mulherzinhas (1868). No entanto, também publicou vários livros policiais sob o pseudónimo de A. B. Barnard.
Durante a Guerra Civil, Louisa trabalhou como enfermeira no hospital da União em Washington D.C.. O seu primeiro trabalho em que retrata a sua experiência no hospital intitulou-se Hospital Sketches (1863). Neste trabalho Louisa descreve o tratamento brutal das feridas dos soldados e das horríveis amputações a que eram submetidos. Refere-se ao éter como o merciful magic of ether que não era administrado em todas as cirurgias. Durante esta sua actividade contraiu febre tifóide, tendo sido tratada com grandes doses de calomel, um composto contendo mercúrio.
Durante o resto da sua vida e até à sua morte em 6 de Março de 1888, devido aos efeitos a longo prazo do mercúrio, auto-medicou-se com ópio e morfina. A dependência do ópio é visível em alguns dos seus últimos livros: The Marble Woman ou The Mysterious Model.
Uma revisão recente da doença de Louisa Alcott sugere que a verdadeira causa da sua morte não tenha sido devido ao envenenamento com mercúrio mas sim a uma doença autoimune. Os últimos retratos, revelam uma mulher com rash nas faces característico do lupus!…

Na próxima semana, descubra porque é que John Snow, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Edward R. Squibb

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Edward R. Squibb

Em 4 de Julho de 1819 nasceu em Wilmington, Delaware, o Dr. Edward R. Squibb.
Foi graduado em Medicina pelo Jefferson Medical College em 1845, tendo iniciado a prática de Medicina em várias áreas de interesse.
Em 1948 alista-se na US Navy como médico naval, abandonando a sua clínica privada. Passou 4 anos em vários navios no Atlântico e Mediterrâneo, tomando notas sobre os vários aspectos que caracterizavam a vida e o tratamento dos marinheiros: dieta deficiente, tradições vergonhosas e má qualidade da medicina exercida a bordo dos navios.
Durante 6 meses, suspendeu a sua actividade naval para frequentar cursos de actualização na Jefferson Medical College. No decurso destes cursos, ficou visivelmente sensibilizado pelas cirurgias efectuadas com o novo “éter sulfúrico”, tendo tomado inúmeras notas nos seus livros. Estudou química e familiarizou-se com as propriedades do éter. As críticas que manifestou em relação à Marinha, conduziram à criação de um laboratório naval em Brooklyn com o objectivo de produzir fármacos de qualidade.
O interesse de Squibb pelo éter teve resultados práticos em 1853, quando verificou que o éter utilizado nas anestesias era muito impuro produzindo efeitos muito diversos com amostras diferentes. O seu objetivo foi produzir éter puro, consistente e fiável pelo que desenvolveu no decurso de 1854 um aparelho para destilar éter. Recusou-se a patentear a sua invenção permitindo deste modo que toda a gente beneficiasse da sua invenção. Publicou pormenorizadamente todo o processo de fabrico em 1856 no American Journal of Pharmacy.
Em 1858, fundou a Squibb Pharmaceutical Co.. A sua companhia tinha como objectivo produzir fármacos que fossem eficazes, com princípios activos puros e padronizados, facto que não acontecia nos medicamentos existentes na época. Dos primeiros medicamentos encomendados, destacam-se: o clorofórmio, o éter e a cocaína.
Faleceu em 1906, tendo deixado um legado inestimável no desenvolvimento do conceito de “fármacos puros”. Depois de Squibb, nunca mais os fármacos foram aquelas substâncias que, com algum grau aleatório quase sempre resultante do seu grau de impureza, podiam curar ou matar sem se saber a causa.

Na próxima semana, descubra porque é que…Heinrich Quincke, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Nathan Cooley Keep

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Nathan Cooley Keep!

Estamos em 7 de abril de 1847, Cambridge, Massachusetts.  Nathan CoolNK1ey Keep é um eminente médico especializado em dentista e fervoroso entusiasta da utilização do éter como complemento anestésico na extração de peças dentárias.
Desta vez, o Dr. Keep resolve utilizar os seus conhecimentos “anestésicos” em Obstetrícia. A parturiente é Fanny AppletNK2on Longfellow, segunda mulher do famoso poeta Henry Wadsworth Longfellow. Durante o parto, Fanny inalou através do aparelho desenhado por Keep. Nunca perdeu a consciência mas não sentiu dores durante o parto. Deu à luz uma menina saudável tendo decorrido todo o procedimento sem qualquer acidente. A satisfação da mãe foi enorme pelo que escreveu…
“I am very sorry you all thought me so rash and naughty in trying the ether. Henry’s faith gave me courage and I had heard such a thing had succeeded abroad, where the surgeons extend this great blessing much more boldly and universally than our timid doctors. Two other ladies, I know, have since followed my example successfully and I feel proud to be the pioneer to less suffering for poor, weak womankind. This is certainly the greatest blessing of this age and I am glad to have lived at the time of its coming and in the country which gives it to the world, but it is sad that one’s gratitude cannot be bestowed on worthier men than the joint discoverers, that is, men above quarreling over such a gift of God. As one of my brother’s lady friends abroad, a pious, noble woman, says, one would like to have the bringer of such a blessing represented by some grand, lofty figure like Christ, the divine suppresser of spiritual suffering as this of physical.”NK3
Nathan Cooley Keep não esteve presente em outubro de 1846 na demonstração dos efeitos do éter realizados por Morton em Boston, mas deve ter sido inspirado por este acontecimento. Em 3 de abril de 1847, já descrevia 200 casos da aplicação de éter em extrações dentárias. Insistia frequentemente que o éter deveria ser “perfeitamente puro” e que “o aparelho por onde os doentes inalavam deveria ter um reservatório, um bucal de forma e dimensões convenientes e uma válvula junto deste bucal que permitia a passagem do vapor para a boca e pulmões do doente mas que evitasse que os gases expiraNK4tórios se acumulassem no aparelho”. Voltou a administrar éter em 18 de abril a um doente que sofria de dores intensas no abdómen.
 Há 150 anos atrás quando a anestesia ainda não tinha estatuto de especialidade, já alguns ilustres médicos se preocupavam em anestesiar grávidas para evitar o sofrimento do parto. Em 2017 a realidade mostra que apesar da evolução extraordinária das técnicas anestésicas, a analgesia/anestesia do parto ainda não é um direito de todas as grávidas.

 Na próxima semana, descubra porque é que Martinus Van Marum, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

James Marion Sims

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é James Marion Sims!…

25 de Janeiro de 1813! Nasce em Hanging Rock, Carolina do Sul, James Marion JMS1Sims. Após um infância e adolescência vividas calmamente na sua terra natal com a sua família, resolve ir viver para Filadélfia e torna-se graduado em Medicina em 1835 na Jefferson Medical College. Volta para Lancaster para exercer Medicina mas após a morte de dois dos seus primeiros doentes decide ir viver para o Alabama.
É aqui que se dedica a tratar fístulas vesico-vaginais, patologia muito frequente e resultante dos traumatismos do parto. Inventa novas técnicas cirúrgicas utilizando as escravas como “cobaias”, havendo descrições de ter operado uma delas (Anarcha), cerca de 30 vezes. Todas estas intervençõeJMS2s cirúrgicas eram realizadas sem qualquer anestesia, especialidade que estava então a emergir após as experiências de Morton com éter em 1846. Com o aperfeiçoamento da sua técnica, aplicou os seus conhecimentos na cirurgia de mulheres caucasianas, agora sim com anestesia baseada na administração de ópio!…
No entanto, Sims reinvidica a utilização de éter na anestesia de doentes a partir de 1842 pelo seu colega cirurgião Crawford Long, facto este reconhecido como verídico anos mais tarde.
Nestas suas investigações Sims inventou o espéculo, bem como insistiu na ideia nascente da limpeza do campo cirúrgico. Usou também pJMS3ela primeira vez suturas com fio de prata.
Em 1853 Sims vai trabalhar para Nova Iorque onde dois anos mais tarde inaugura o primeiro hospital americano para uso exclusivo de mulheres. Foi também Presidente da Associação Médica Americana.JMS4
Em 1862 na sequência da Guerra Civil Americana emigrou para a Europa tendo trabalhado em Paris e Londres com grande sucesso. Retorna a Nova Iorque em 1871.
Morreu em 13 de Novembro de 1883 vítima de ataque cardíaco no momento em que planeava nova visita à Europa.

Na próxima semana, descubra porque é que Nathan Keep, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”! 

Charles Baudelaire

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Charles Baudelaire!…

Vamos, desta vez, abordar uma forma mais filosófica de conceber a Anestesia e os seus efeitos. Para isso a personagem escolhida para encarnar esta temática é Charles Baudelaire.cb1
Nasceu em Paris a 9 de abril de 1821. Estudou no Colégio Real de Lyon e Colégio Louis-Le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe foi passado por um colega)…
Em 1840 foi enviado à Índia pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada,, mas nunca chegou ao destino. Pára na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, toma posse da herança do pai. Por dois anos vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval.
Em 1857 é lançado o seu livro mais conhecido e polémico: As Flores do Mal contendo 100 poemas. É acusado no mesmo ano, pelo Poder de ultrajar a moral pública. Os exemplares são confiscados, o escritor paga de multa de 300 francos ecb2 a editora de 100.
Baudelaire ficou conhecido pelas suas sessões de poesia negra realizadas em ambiente poluído por fumadores de haxixe. No seu ensaio “Poema do Haxixe” publicado em 1895 faz algumas observações interessantes sobre a Anestesia: “Apesar dos admiráveis serviços que o éter e clorofórmio prestaram à humanidade, parece-me que, do ponto de vista da filosofia idealista o mesmo estigma moral marcado pela diminuição do livre-arbítrio humano e da dor necessária, é a marca em todas as invenções modernas. Não foi sem uma certa admiração que uma vez escutei o paradoxo de um oficial que me contou a cruel operação sofrida por um general francês em El-Aghouat, e que, apesar do clorofórmio, morreu. Este general era um homem muito corajoso e cavalheiro, uma vez que me disse que não era do clorofórmio que ele precisava, mas sim dos olhos de todo o exército e das músicas da sua banda. Assim, provavelmente teria sido salvo”. O cirurgião não concordou com o oficial, mas o capelão teria sem cb3dúvida admirado estes sentimentos.
Este conceito de “dor necessária” parece que actualmente ainda é apanágio de alguns médicos (felizmente cada vez menos), que continuam a pensar que “é preciso sofrer para saber dar o valor” e que “sem dor não há diagnóstico”!…
  Baudelaire faleceu em Paris em 31 de Agosto de 1867  devastado pela sífilis com 46 anos. O seu corpo está sepultado no Cemitério do Montparnasse.

Na próxima semana, descubra porque é que Theodoric de Lucca, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Franz Anton Mesmer

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Franz Anton Mesmer

 Em 23 de Maio de 1734 nasce em Iznang, pequena vila próximo do lago Constance (Áustria), Franz Anton Mesmer. Estudou teologia em Ingolstadt e formou-FAM1se em medicina na Universidade de Viena. Provido de recursos, dedicou-se a longos estudos científicos, chegando a dominar os conhecimentos de seu tempo, época de acentuado orgulho intelectual e cepticismo. Era um trabalhador incansável, calmo, paciente e ainda um exímio músico.
Em 1775, após muitas experiências, Mesmer reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Acredita que dela desprende um fluido que alcança o doente e declara: “De todos os corpos da Natureza, é o próprio homem que com maior eficácia actua sobre o homem”. A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura, opina ele. Mesmer, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, para estender o benefício a maior número de pessoas, magnetizava água, pratos, cama, etc. O seu livro, “Memoire sur la decouverte du magnetisme animal” publicado em 1779 descreve as curas com magnetes e hipnose.
A sua popularidade prosseguiu por muitos anos, mas outros médicos o apelidavam de impostor e charlatão. Em 1784, o governo francês nomeou uma comissão de médicos e cientistas para investigar suas actividades. Benjamin Franklin foi um dFAM2os membros dessa comissão, que acabou por constatar a veracidade das curas- Porém as atribuíram não ao magnetismo animal, mas a outras causas fisiológicas desconhecidas…
Em 1792, Mesmer vê-se forçado a retirar-se de Paris, vilipendiado, e instala-se numa pequena cidade suiça, onde vive durante 20 anos sempre servindo os necessitados e sem nunca desanimar nem se queixar. Em 1812, já aos 78 anos, a Academia de Ciências de Berlim convida-o para prestar esclarecimentos, pois pretendia investigar a fundo o magnetismo. Era tarde; ele recusa o convite. A Academia encarrega o Prof. Wolfart de entrevistá-lo. O depoimento desse professor é um dos mais belos a respeito do caridoso médico: “Encontrei-o dedicando-se ao hospital por ele mesmo escolhido. Acrescente-se a isso um tesouro de conhecimentos reais em todos os ramos da Ciência, tais como dificilmente acumula um sábio, uma bondade imensa de coração que se revela em todo o seu ser, em suas palavras e acções, FAM3e uma força maravilhosa de sugestão sobre os enfermos.”
No início de 1814, ele regressou para Iznang, sua terra natal, onde permaneceria os seus últimos dias até falecer em 05/03/1815.
Vários anos antes da descoberta das propriedades anestésicas do éter por Morton em 1846, alguns cirurgiões ingleses tais como James Esaile, John Elliotson e James Braid utilizaram o mesmerismo como método de alívio da dor cirúrgica e publicaram vários relatos dos seus sucessos.

 Na próxima semana, descubra porque é que…Jean Baptiste Denis, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!