BENJAMIN THOMPSON

odas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Benjamin Thompson.

Há pessoas, que ao longo dos séculos, têm tido um papel decisivo na evolução da Anestesia sem terem sido protagonistas directos em invenções “sonantes”.
Uma dessas pessoas, foi Benjamin Thompson. Nascido em Massachusetts em 26 de Março de 1753, dedicou toda a sua vida a ser inventor, espião, oficial, diplomata e filantropo. Durante muitos anos estudou e escreveu vários artigos sobre a pólvora. Foi o primeiro cientista a estudar e a revolucionar o conceito da importância do calor como forma de movimento e nesta linha de pensamento inventou o fotómetro, o calorímetro e uma nova lâmpada de óleo. Assim, conseguiu eliminar a ideia corrente na época de que o calor era um “líquido invisível” conhecido como “calórico”. Desta sua actividade resultou o interesse que dedicou ao estudo dos incêndios e da função dos bombeiros. Instalou uma porta de vidro na sua lareira e estudou afincadamente as propriedades da chama. Assim, projectou melhores fogões e chaminés e tornou-se o fundador da termodinâmica.
Durante a Revolução, espiou os Americanos a favor dos Ingleses, razão pela qual após a guerra foi viver para Inglaterra. Foi armado cavaleiro, foi-lhe concedido um condado e o título de conde (Conde de Rumford).
O seu grande contributo para a Anestesia ocorreu em 1800, quando colaborou na fundação do famoso “Royal Institution of London” e contratou um jovem, Humphry Davy, para ser professor de química. Em Março de 1801, Davy transferiu-se do “Pneumatic Medical Institution” onde se dedicava a experiências com o protóxido de azoto e outros gases, para esta nova instituição. Durante um ou dois anos, prosseguiu o seu trabalho de investigação sobre os efeitos do protóxido de azoto, sempre integralmente sustentado na sua actividade pelo “Conde de Rumford”. No entanto, ao fim de dois anos, a “Royal Institution of London”, tornou-se um campo de estudo demasiado teórico para Benjamin Thompson, pelo que abandonou a instituição e mudou-se para Paris, onde continuou a sua actividade como filantropo.
Faleceu em 1814 em Auteuil com 61 anos de idade, vítima de febre súbita. Deixou em herança o seu relógio de ouro a Humphry Davy e grande parte da sua fortuna à Universidade de Harvard.

Na próxima semana, descubra porque é que… Franz Mesmer, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Os Opióides

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é “Os Opióides”.

Neste número, vamos abordar uma temática um pouco diferente da habitual. As nossas atenções vão recair sobre os opióides e derivados e sobre a sua aplicação medicamentosa há cerca de 100 anos!…

Entre 1890 e 1910 a heroína era divulgada como um substituto não viciante da morfina. Era usada como anti-tússico para crianças…

Vinho com coca, foi uma formulação muito popular. Os efeitos medicinais eram “inegáveis”(?) mas geralmente eram consumidos pelo seu valor “recreativo”

    Em 1865 era o principal vinho de coca do seu tempo. O Papa Leão XIII transportava um frasco com este vinho e premiou o seu criador (Ângelo Mariani) com uma medalha de ouro

 A heroína era vulgarmente usada não apenas como analgésico mas também contra a asma, tosse e pneumonia. A heroína com glicerina (associada a açúcar e outros temperos) tornava o opióide mais agradável para a ingestão oral

  “Para a asma e outras doenças espasmódicas”. O líquido volátil era colocado numa panela e aquecido por um lampião de querosene

 

  Estas drageias de cocaína eram “indispensáveis” para os cantores professores e oradores. Ótimo para as odinofagias, tinham um efeito “animador” para que estes profissionais atingissem o máximo da sua performance.

 Peso de papel com promoção da CF Boehringer & Soehne. “Os maiores fabricantes do mundo de quinino e cocaína” ostentavam orgulhosamente a sua posição de líder no mercado da cocaína

 Os rebuçados de cocaína para a dor de dentes (1885), eram populares para as crianças. Não apenas suprimiam a dor como também melhoravam o “humor”…

 Para tranquilizar bebés recém-nascidos não era necessário um grande esforço dos pais, mas sim, ópio. Este frasco contém uma mistura de ópio e álcool (46%)… Posologia-. Crianças: até aos 5 dias, 3 gotas; até às 2 semanas, 8 gotas; até aos 5 anos, 25 gotas. Adultos, 1 colher cheia.

 Na próxima semana, descubra porque é que Benjamin Thompson, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

 

AS PANDEMIAS E O PAPEL DO ANESTESIOLOGISTA

Após um interregno mais ou menos prolongado devido à pandemia, propomo-nos reiniciar a publicação de pequenas histórias sobre grandes vultos da História da Anestesia.
Pareceu-nos que nada melhor que recomeçar esta série de textos com uma reflexão sobre a importância do Anestesiologia no contexto das pandemias na atualidade e ao longo dos séculos…

Desde há 2000 anos que se sabe que as pandemias, a intervalos espaçados no tempo, devastam a qualidade de vida dos seres humanos.
Nestes múltiplos surtos, os profissionais de saúde, os sistemas hospitalares e todas as estruturas que os antecederam, suportaram o impacto do elevado número de doentes que recorreram aos seus préstimos, cumprindo em cada época os seus deveres profissionais de uma forma exemplar. Apesar do empenhamento dos profissionais, as pandemias têm exposto as inúmeras carências dos sistemas de saúde que tiveram sempre muitas dificuldades em se adaptarem às “avalanches” de doentes que a eles recorrem nestas épocas de crise. No entanto, neste esforço tantas vezes ciclópico, nem todos os profissionais de saúde foram expostos aos mesmos riscos. Os voluntários e algumas especialidades médicas, onde se incluem os anestesiologistas estiveram sempre na “linha da frente”, lidando com os casos mais graves. Tornaram-se assim elementos cruciais na resposta contra qualquer pandemia que curse com um componente respiratório grave ou letal.
Na história do combate às pandemias destaca-se John Snow que estudou com enorme rigor e sistematização os primeiros agentes inalatórios conhecidos, nomeadamente o clorofórmio. Utilizou o mesmo método para estudar a epidemia de cólera em Londres em 1848. Mapeou toda a cidade de Londres com o máximo de casos de cólera e descobriu que estavam relacionados com uma empresa de fornecimento de água. Ficou assim demonstrado que a transmissão da cólera se fazia pela água, mesmo antes do conhecimento dos microrganismos…
A gripe espanhola que data de 1918-19 é a pandemia mais mortal da história da humanidade. Causou 40-100 milhões de mortes em todo o mundo em 12 meses. Foi estimado que aproximadamente 10% dos jovens que viviam naquela época foram mortos pelo vírus.
Outras pandemias no séc. XX e XXI tiveram também uma importância transcendente. Destaca-se no ano de 1950 a infecção pelo vírus da poliomielite que devastou a vida de milhares de pessoas e deixando como sequelas múltiplas paralisias parciais.
Em 2003, o surto da síndrome respiratória aguda grave (SARS) chocou o mundo. Foi relatado pela primeira vez na Ásia em fevereiro de 2003 e em poucos meses difundiu-se pela América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia afetando mais de 8.000 pessoas com uma mortalidade de aproximadamente 10%.
Em 2009, o primeiro caso de H1N1 foi relatado no México. Posteriormente, espalhou-se por 214 países em todo o mundo, matando mais de 18.000 pessoas.
Em 2012, o Coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e em 2014-16, o vírus Ebola que devastou a parte ocidental da África, são dois exemplos recentes de pandemias que mataram e deixaram com sequelas milhões de pessoas em todo o mundo.
Em 11 de Março de 2020 a OMS declarou como pandemia a infeção causada pelo SARS-CoV-2…
Em todas estas pandemias os anestesiologistas desempenharam (e desempenham) um papel crescente no tratamento dos doentes infetados contribuindo decisivamente para a diminuição da morbilidade e mortalidade.
Durante o surto de uma pandemia, os anestesiologistas estão sempre na linha da frente, cuidando dos casos mais graves quer na Urgência, sala de operações ou UCI. São os médicos que correm maiores riscos de adquirir a infeção pois estão envolvidos em procedimentos geradores de aerossóis, como seja a intubação endotraqueal, a ressuscitação cardiopulmonar e, por vezes, as traqueotomias. São também, por inerência das suas funções, dos mais expostos a problemas de stress mental e consequentemente sujeitos a casos graves de depressão e de disfunção familiar como se tem constatado no caso da pandemia pelo SARS-CoV-2.
Pelas suas capacidades de organização e sistematização são também os especialistas mais vocacionados para fazerem parte das equipas de coordenação e de definição de protocolos das estruturas hospitalares. O seu conhecimento abrangente e a sua atividade profissional transversal a múltiplas especialidades hospitalares fazem do anestesiologista o “elemento-charneira” entre as diversas competências médicas permitindo a realização destas tarefas de coordenação de uma forma particularmente eficaz.
Em conclusão poderemos dizer que um dos grandes ensinamentos das pandemias, principalmente a provocada pelo SARS-CoV-2, é que os anestesiologistas são cada vez mais necessários para um combate eficaz e o seu número nunca será suficiente para as necessidades acrescidas que ocorrem nestes períodos de crise. Só com a sua colaboração, empenhamento e maior influência nos sistemas de saúde, será possível reduzir drasticamente a morbilidade e a letalidade.
E não se iludam os burocratas que julgam que a sua importância se resume aos momentos de crise! No pós-pandemia os anestesiologistas serão ainda mais necessários para tratar as sequelas precoces e tardias das pandemias…

William Edward Clarke

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é William Edward Clarke.

 Em 22 de Fevereiro de 1819, nasceu no Connecticut, Estados Unidos da América, William Edward Clarke. Desde muito novo, foi influenciado pelo ambiente familiar: o pai era médico e os seus avôs também eram médicos proeminentes.
Foi estudante de Química em Rochester, Nova Iorque. Tal como era moda na altura, utilizou éter com intuitos recreativos. Nestas festas, as pessoas eram incentivadas a inalar éter ou protóxido de azoto, e as suas reacções à inalação eram motivo de riso e divertimento entre todos os espectadores. Uma das pessoas que testemunhou estes acontecimentos nestes “convívios” promovidos por Clarke, foi TG Morton futuro “pai” oficial da Anestesia.
Em Janeiro de 1842, Clarke era estudante na Faculdade de Medicina de Vermont. Na presença do seu tutor, Professor E. M. Moore, administrou éter a Miss Hobbie (irmã de um dos seus colegas), para a realização de uma extracção dentária pelo Dr. Elijah Pope. Usou uma toalha embebida em éter e aplicou-a na face de Miss Hobbie. Posteriormente a extracção dentária realizou-se sem qualquer dor…
O resultado foi de tal forma inesperado que o Prof. Moore interpretou este comportamento tão pacífico de Miss Hobbie como um ataque de histeria perante a dor e assim instou Clarke a não continuar tais tratamentos.
Se Clarke não tivesse obedecido às directrizes do seu tutor, provavelmente hoje seria mundialmente reconhecido como o “descobridor” da Anestesia. No entanto Clarke foi pouco persistente e metódico na análise dos resultados e não voltou a repetir a experiência, pelo que este episódio só mereceu a atenção dos seus pares em 1850, já depois de Crawford Long (1842) e Thomas Morton (1846), terem feito as suas demonstrações públicas da eficácia do éter.
Clarke após graduar-se em Medicina em 1849, trabalhou como cirurgião em Michigan e Chicago e realizou o serviço militar em 1861. Dois anos mais tarde, retomou a Medicina civil em Chicago como cirurgião e ginecologista.
Morreu em Chicago em 6 de Outubro de 1894, inconsciente do seu papel na descoberta da Anestesia!…
Clarke é um bom exemplo de como as invenções só têm significado se os inventores as souberem merecer…

Na próxima semana, descubra porque é que os “Opióides”, mereceram as honras de ser nomeado por este “site”!

Teodoric Borgognoni

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Teodoric Borgognoni.

No dia 24 de dezembro de 1298 faleceu Teodoric Borgognoni também conhecido por Teodorico de Lucca.
Nascido em 1205, este italiano foi médico e um dos cirurgiões mais famosos do período medieval. Estudou medicina na Universidade de Bolonha e simultaneamente tornou-se um frade dominicano.
Em 1240, Teodorico foi designado médico do Papa Inocêncio IV e em 1262 foi nomeado bispo de Bitonto e mais tarde bispo da Cérvia , cargo que ocupou até à sua morte.
A sua principal obra médica é a Cyrurgia, uma obra em 4 volumes que abarcava todos os aspectos da cirurgia. O livro rompeu com muitas práticas tradicionais cirúrgicas praticadas pelos gregos antigos e os cirurgiões árabes da época. Neste livro foi significativa, a importância da experiência pessoal e da observação em oposição a uma confiança cega nas fontes antigas, prática de então. Na sua medicina diária insistia que o hábito de incentivar o desenvolvimento de pus em feridas, transmitido por Galeno e pela medicina árabe deveria ser substituído por uma abordagem mais anti-séptica, com a limpeza e suturação da ferida para promover a cicatrização. As bandagens das feridas deveriam ser pré-embebidas em vinho como uma forma de desinfetante!
Em relação à Anestesia, Teodorico desenvolveu as esponjas soporíficas (“soporific sponges”) embebidas numa solução de ópio e mandrágora, cicuta, suco de amora, hera e outras substâncias. Era aplicada no nariz do doente para induzir inconsciência e assim promover o alívio da dor cirúrgica. Para acordar o doente, sugeriu a utilização de vinagre e raízes de funcho.
Teodorico de Lucca, é o exemplo de como boas ideias são por razões desconhecidas subitamente abandonadas e muitos anos depois (neste caso vários séculos…), reaproveitadas!…

Na próxima semana, descubra porque é que William Clarke, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Samuel Guthrie

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Samuel Guthrie.

 No ano de 1782, nasceu em Hounsfield, Nova Iorque, Samuel Guthrie. Mente brilhante, ficou conhecido por diversas invenções de que se destacam vários sistemas relacionados com armas de fogo, que revolucionaram os conceitos existentes na época.
Para além destas suas actividades “lúdicas”, Samuel Guthrie foi um homem de negócios de sucesso, mais conhecido por manufacturar “chloric ether”, vinagre e “priming powder” para armas de fogo. Em 1830, inventou também um processo de conversão do amido da batata em melaço e ficou famoso pelo álcool que destilava!…
As bases académicas de todo este processamento mental extraordinário, foram adquiridas nos estudos que efectuou durante o Inverno de 1810-1811 no “College of Physicians and Surgeons of New York”. Em janeiro de 1815, assistiu às aulas na “University of Pennsylvania”. Estes cursos constituíram toda a sua educação formativa! Com esta formação, dedicou-se à Medicina e essencialmente à Química prática.
Em relação à sua actividade médica e após o seu casamento aos 22 anos com Sybil Sexton, mudou-se para Harbor Sackets, Nova Iorque, onde exerceu Medicina como “médico rural”. Mas foi em 1831 que Samuel Guthrie fez a descoberta que o celebrizou na Medicina: a descoberta do clorofórmio! Esta substância, resultou da destilação da cal com álcool num barril de cobre. Foi usada com sucesso em anestesias para amputação de membros. Simultaneamente, o clorofórmio foi descoberto, em investigação independente da de Guthrie, pelo cientista francês Eugène Soubeiran (Outubro de 1831) e por Justus Liebig em Novembro de 1931. No entanto, Guthrie publicou a sua descoberta no Verão de 1832, pelo que é consensualmente reconhecido como o descobridor “oficial”, após um processo moroso em que os interessados se degladiaram energicamente. Foi necessário um comité de investigação proposto pela sociedade médico-cirúrgica de Edimburgo para apaziguar esta contenda.
Guthrie faleceu em Sacket Harbor, N.Y., em 19 de outubro de 1848.
Para a Medicina em geral e para Anestesia em particular Guthrie deixou-nos como legado o clorofórmio, líquido volátil não inflamável, sem cor, com um odor característico e um gosto adocicado. Durante quase um século foi um dos fármacos mais utilizados em Anestesia graças à sua eficácia, ao seu baixo custo, ao seu elevado perfil de segurança e à sua facilidade de administração praticamente desprovida de material específico. Por estas características foi o fármaco mais usado em cenário de guerras tendo o seu declínio sido acentuado após a Primeira Guerra Mundial. As suas características já enunciadas levam a que haja quem advogue em pleno século XXI que o ensino da sua manipulação deve continuar a ser ensinado…

Na próxima semana, descubra porque é que Theodoric Borgognoni, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Ralph Milton Waters

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Ralph Milton Waters.

No dia 9 de Outubro de 1883, nasceu em Ohio, Estados Unidos da América, o Dr. Ralph Milton Waters fundador da “anestesia académica” nos Estados Unidos. Após ter concluído a sua formação médica em 1912 na Western Reserve Medical School, desenvolveu toda a sua carreira na Universidade de Wisconsin. Faleceu em 1979.
Iniciou a sua carreira médica antes da Primeira Guerra Mundial, como clínico geral, especializando-se posteriormente em Anestesia e Obstetrícia. Mais tarde, devido à incapacidade de manter a sua atividade nestas duas especialidades optou definitivamente pela Anestesia. Em 1918, Waters descreve assim o estado deplorável da prática anestésica: “A few more or less full time surgeons … employed nurses to administer ether in the mornings at hospitals and act as office nurses in the afternoons. A majority of us … depended upon each other to act as anesthetists as occasions demanded”. Waters decide então iniciar programas de treino para melhorar a performance da atuação dos médicos que se dedicavam a anestesiar doentes. A ideia foi tão revolucionária na época que em 1927 Erwin W. Schmidt Professor de Cirurgia na Universidade de Wisconsin o convidou para promover um programa de treinos que veio a influenciar a prática da anestesia em todo o mundo. Foi um Diretor de Departamento que privilegiou em todas as circunstâncias uma atitude de partilha e empatia em relação aos seus colegas, criando um verdadeiro espírito de equipa e uma escola de Anestesiologia famosa em todo o mundo.
Para além desta sua atividade, Waters destacou-se no estudo do dióxido carbono e no desenvolvimento de sistemas pioneiros dos circuitos fechados através da sua absorção, bem como no estudo da farmacologia de novos agentes anestésicos como o ciclopropano e o tiopental sódico em 1936. Foi também pioneiro no desenvolvimento de sociedades anestésicas com o intuito de encorajar a investigação e a divulgação de informação científica.
Waters definiu também as condições que considerou necessárias para exercer Anestesiologia. Já nessa altura considerou fundamental que o Anestesiologista para além de ter um treino intensivo e regular da sua prática diária, deveria ter conhecimentos aprofundados em fisiologia, farmacologia e medicina geral. Definiu também que deveria fazer parte desta especialidade médica o ensino dedicado de outros profissionais, a realização de investigação e estabeleceu padrões éticos e técnicos robustos na prática clínica dos Anestesiologistas.
Reformou-se em 1949, tendo-se dedicado à cultura de citrinos!…
A preservação da memória do Dr. Waters, relembrando o seu trabalho, é fundamental nesta época em que os valores éticos e profissionais da prática da Medicina e da Anestesiologia em particular se encontram ameaçados por forças políticas, sociais e económicas que constantemente minam estes pilares fundamentais da nossa atividade diária.

Na próxima semana, descubra porque é que Samuel Guthrie, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Stephen Hales

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Stephen Hales.

Em 7 de Setembro de 1677, nasceu em Bekesbourne, Kent, Reino Unido, Stephen Hales. Estudou química e botânica na Universidade de Cambridge que frequentou a partir de 1696.
Mente brilhante, dedicou a sua vida a realizar experiências muito simples mas que lhe permitiram compreender o mundo que o rodeava e simultaneamente resolver problemas em diversas áreas, que eram insolúveis na época. Assim desenvolveu o “método experimental” caracterizado não só por observações rigorosas, registo pormenorizado, medições, recolha de dados e baseado nestes, realização de cálculos.
Entre as múltiplas invenções que concretizou, foi o primeiro a medir a pressão arterial, o débito e o volume sanguíneo.
Hales investigou também a importância da água e do ar na fisiologia das plantas e dos animais.
Uma das suas invenções mais notáveis, foi um sistema de ventilação que permitiu salvar muitas pessoas nos barcos, hospitais e prisões. Descobriu que o ar expirado era impróprio para ser consumido. Este facto, juntamente com a propagação rápida de infecções nestes espaços, permitiu perceber a razão para a morte de muitas pessoas quando se encontravam aglomeradas em espaços fechados (ex: navios), situação que era um verdadeiro flagelo no início do séc. XVIII.
Demonstrou que a medula espinhal medeia alguns reflexos e inventou o forceps cirúrgico.
Em 1717, foi eleito como membro da Royal Society.
Faleceu em Teddington a 4 de Janeiro de 1761.
Stephen Hales, foi um cientista brilhante, que utilizando um método científico de vanguarda (mais próximo do séc. XXI do que do séc. XVIII), conseguiu perceber muitos enigmas do mundo exterior e simultaneamente, inventar soluções para problemas reais que afectavam as populações.
Duzentos e cinquenta anos após a sua morte continua a ser homenageado como um dos vultos mais conceituados da História da Ciência.

Na próxima semana, descubra porque é que Ralph Milton Waters, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Friedrich Serturner

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Friedrich Serturner.

Em 19 de Junho de 1783, nasceu em Neuhaus, Alemanha, Friedrich Wilhelm Adam Ferdinand Serturner.
Órfão desde os 15 anos e habituado a conviver na corte do príncipe de Paderborn, começou a interessar-se pelo princípio ativo que tornava o ópio tão eficaz no controle da dor.
Decorria o ano de 1803 quando Seturner aprendiz de farmácia com 20 anos de idade, isolou e extraiu do ópio cristais de morfina. Ao fazê-lo tornou-se o primeiro químico a isolar e a identificar o ingrediente ativo associado a uma planta ou erva medicinal. A sua descoberta permitiu que inúmeros médicos prescrevessem morfina em doses regulares. Evitou-se assim o risco de sobredosagem geralmente associado à prescrição de preparados com sementes de ópio.
Serturner batizou este princípio ativo com o nome de morfina em honra de Morpheus o deus grego do sono. Após este sucesso, continuou as suas experiências discretamente em ratos e cães de modo a conseguir obter a dose ideal para administrar em seres humanos. Recrutou também amigos para experiências a que ele próprio também se submeteu. Assim, verificou que doses baixas de morfina induziam um estado de alegria e de sensação de “leveza mental”. Com doses mais elevadas aparecia um estado de confusão e fadiga excessiva. Aumentando as doses induzia-se um estado de sono com náuseas e cefaleias ao despertar. Como os seus amigos iam desistindo da ingestão de doses maiores, Serturner resolveu auto-ingerir doses progressivamente maiores. Descobriu assim que a morfina era extremamente aditiva!
Só em 1809 após publicação do seu artigo intitulado “Ueber das Morphium als Hauptbestandteil des Opiums”, foi reconhecida mundialmente a sua descoberta.
No fim da sua vida tornou-se vítima de uma depressão crónica como consequência da sua incapacidade de desenvolver uma fórmula para um analgésico oral eficiente e sem efeitos secundários. Ficou hipocondríaco e sentiu no seu estado de saúde os efeitos da sobredosagem da morfina que passou a tomar regularmente.
Faleceu em 20 de fevereiro de 1841 poucos anos antes da invenção dos fármacos analgésicos por via endovenosa.
Apesar da sua educação básica, o trabalho de Serturner demonstrou para além do isolamento dos cristais de morfina que as plantas medicinais contêm substâncias específicas que podem ser extraídas com eficácia. Estas substâncias podem ser controladas com precisão e serem a base de fármacos fundamentais para a manutenção do bem-estar dos seres humanos.

Na próxima semana, descubra porque é que Stephen Hales, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!

Francis F. Foldes

Todas as semanas reveja uma personalidade que por motivos muito diversos está ligada à História da Anestesia. Esta semana, o escolhido é Francis F. Foldes!

Em 19 de Maio de 1997 faleceu Francis F. Foldes
O Dr. Foldes, nasceu em 13 de junho de 1910 em Budapeste, Hungria, e formou-se em Medicina na Escola Médica da Universidade de Budapeste em 1934. Durante o período em que tirou a sua especialização, foi professor de bioquímica na Universidade. Especializou-se em Medicina Interna em 1938. Em 1941 durante a 2ª Guerra Mundial e com a invasão da Hungria, resolveu emigrar para os Estados Unidos juntamente com a sua mulher, Edith, após uma viagem atribulada em que foram detidos em Berlim. Iniciou a sua carreira como anestesiologista no Massachussetts General Hospital sendo nomeado Diretor do Departamento de Anestesiologia em 1947 no Mercy Hospital em Pittsburgh, Pennsylvania. Durante os anos que passou neste hospital que se revelaram ser os mais profícuos da sua carreira, iniciou os seus estudos sobre miastenia gravis, colinesterase, anestésicos locais, relaxantes musculares e narcóticos. A sua investigação clínica incidiu também sobre a anestesia subaracnoideia e epidural, sobre a suplementação com narcóticos e anestesia geriátrica. Durante os 15 anos que permaneceu em Pittsburgh, o Dr. Foldes participou ativamente no treino de 100 residentes. Era um clínico entusiasmado que adorava demonstrar técnicas de anestesia regional e inalatória e fármacos novos e antigos aos seus residentes.
Foi nomeado em 1962 Diretor do Departamento de Anestesiologia do Montefiore Medical Center no Bronx, Nova Iorque, onde exerceu a sua atividade até à reforma em 1975.
Em 1964 foi nomeado Professor de Anestesia do Albert Einstein College of Medicine em Nova Iorque.
Para além destes e de vários outros cargos e títulos honoríficos que lhe foram atribuídos ao longo da sua vida, foi eleito em 1968 para a Presidência da Federação das Sociedades Mundiais de Anestesiologistas.
O Dr. Foldes é fundamentalmente conhecido pela sua contribuição significativa no diagnóstico e tratamento da miastenia gravis. Foi responsável pela introdução da 2-cloroprocaína e da naloxona na prática clínica. Desenvolveu também a técnica da perfusão contínua dos relaxantes musculares e inventou a anestesia de baixo débito.
Publicou cerca de 600 artigos e foi coautor de vários livros sobre os temas que o entusiasmaram durante toda a sua vida profissional: miastenia gravis, anestésicos locais, relaxantes musculares e narcóticos.

Na próxima semana, descubra porque é que Friedrich Serturner, mereceu as honras de ser nomeado por este “site”!